Hoje sinto-me assim, como se a minha sombra estivesse a tentar disciplinar-me. Estranha sensação esta de ser-se livre, saber-se que nada ou ninguém nos pode apontar o dedo e, no entanto, estarmos condicionados, por nós próprios! Diria que é algo bom... tirando o facto de me ter feito acordar com a cabeça a 1000 e não me permitir propriamente concentrar em condições nas várias coisas que tenho para fazer, que nunca acabam... Não é de perto nem de longe a primeira vez que me confronto com estes pensamentos... há quem diga que eu pense demais, nunca parei para pensar nisso e se isso é tão pouco bom ou mau... Mas não deixa de me fazer pensar... e de me fazer perder tempo... Assumi compromissos pessoais ambiciosos, bem bem bem ambiciosos. Pago até uma factura mensal pelas opções que deliberadamente fiz. São escolhas minhas e só minhas, como tantas outras.
No entanto, verdade seja dita, existe um esforço, uma dedicação ou um "custo de oportunidade", como lhe queiram chamar, bem elevado. Obrigam-me automaticamente a fazer escolhas - optar por uma situação em detrimento de outra - e é aqui, nesta parte, que por vezes me custa... Uma parte que eu sei que se alimentar em demasia, leva e consome outra parte de mim.
Frase típica e corrente minha dos últimos tempos "não tenho tempo!"... Será que alguém percebe? Não tenho mesmo tempo... e isto é capaz de me assustar um pouco em certas alturas. Não tenho tempo! É quase como se, por vezes, não pudesse virar a cara sequer para o lado e ver o que está a acontecer - porque não tenho tempo, ou porque tenho medo de ver algo que realmente goste ou chame a atenção. E se assim for, logo de seguida sentir-me irremediavelmente transtornada por saber que não tenho sequer como encaixar isto ou aquilo na minha vida. É um pouco ridículo, mas este drama passa um pouco por aí.
Passar tanto tempo a investir em algumas coisas e não vou desistir delas, porque são opções minhas... e saber ao mesmo tempo, o conjunto de oportunidades que vou deixar passar, vou deixar cair, não vou agarrar, não vou lutar, não vou sequer ver ou conhecer - uma vida a passar-me ao lado, enquanto construo aquilo que hoje idealizo como vida. Se der espaço ao pensamento para isto, tenho receio!
Faz hoje de mim uma pessoa mais isolada, constantemente nos bastidores... E eu adorava os palcos... Ver tudo e todos, viver o hoje como se não existisse um amanhã. Apaixonada pela vida e pelas decisões de última hora, não planeadas e inconscientes. Fazer e aparecer... Apaixonar-me e deixar alguém entrar neste meu mundo e partilhar esses momentos todos.
Será que as pessoas acreditam mesmo que deixei de desejar tudo isto? Nem vou responder ou comentar mais isto...
"oh mas podes conciliar tudo" - o tanas! Existe um lugar dentro de mim reservado e preparado para todas essas coisas, não o vou negar - jamais o faria! Uma vontade incomparável de o fazer. Mas... Não!
"O ideal seria..." - quantas vezes me sai um enquanto penso. Não existem tais coisas - existe sim a realidade em que estou inserida e as opções que tomei e poderei vir a tomar.
Acordei assim, meia atordoada... talvez porque pela primeira vez em semanas voltei a sair a noite e revivi e senti algumas coisas. Ficou aquele pensamento do "pa, boa vida!"... E como sei que neste momento não tenho tanta disponibilidade para... bah! Tinha saudades, mesmo! Um pouco de medo de perder isso... de perder algumas pessoas... que tudo bem que temos que investir em nós próprios, mas não podemos deixar de investir nos outros. E eu sei e reconheço que estou a ultrapassar a fase talvez mais egoísta da minha vida.
Mantenho-me contudo no mesmo caminho! Se não for com a mesma força de vontade - com o meu próprio dedo apontado a minha cara, a disciplinar-me e a lembrar-me todos os dias que mais que tomar decisões, é saber leva-las em diante e assumir as consequências que estas decisões implicam. Faz de mim unicamente uma pessoa mais forte e, se não mais admirada pelos outros, mais admirada por mim mesma!
"Eles dirão que você está na estrada errada, se for a sua" Antonio Porchia
Incrivelmente assustadora também é esta ideia do "quanto mais caminhamos, mais e mais pessoas ficam para trás".
Poucos sabem o que querem... satisfeitos somente com o facto de saberem o que não querem. Essa já não sou eu! Fui por demasiado tempo assim. Até o dia em que olhei para trás, olhei para os meus pés e olhei para a estrada que tinha na altura a minha frente. Simplesmente isso! Detestei o que vi!
Sei neste momento mais do que aquilo que não quero, sei também o que quero... E o que não sei, bem, a verdade é que também não quero saber tudo agora. Quis saber apenas o suficiente para andar em frente com os meus projectos pessoais. E aqui talvez pela primeira vez nesta vida, não poupei meios para isso.
Vivo talvez de uma forma bem mais simplista e bem mais egoísta! Não quero contudo viver de outra forma por agora. Tenho o meu mundinho bem estabelecido e gosto bastante dele assim. Com todas as amarguras e dissabores!
Faz tempo habituei-me de forma quase irremediável a saber estar sozinha perante a vida. Não espero que me acompanhem... Posso desacelerar o passo quando sinto A ou B a ficar para trás, ou C que não me entende e me vira as costas... Mas quase de seguida acelero ainda mais o passo.
É a minha caminhada, o meu caminho. Não estejam a espera que eu mude da mesma forma que eu não estou a espera que me entendam!
Há pessoas, histórias e episódios... Tudo coisas e memórias muito minhas que me fazem querer percorrer este caminho, que um dia fora planeado de uma forma e hoje, decorre de outra. Talvez melhor, nunca pior!
Se um dia andei perdida, e todos que me conhecem sabem-no melhor ou pior disso, faz algum tempo, encontrei o meu caminho. Podem não gostar dele, podem não o aceitar, podem criticar. Alguns por serem egoístas, outros interesseiros, outros ingénuos e outras vítimas... Outros simplesmente por acharem que o sinónimo de encontrar algo é o encontrar alguém. Tudo errado, todos errados!
Não foi alguém senão eu mesma a querer isto!
Estive a pensar nisto recentemente, talvez embalada pelas minhas últimas opções musicais... Mas não deixa de ser um facto que garantidamente temos de deixar muita coisa para trás para conseguirmos andar em frente nesta vida!
E como tudo em mim acaba em música... Fica uma do último concerto que tive oportunidade de ver, que adoro... que está em todas as entre-linhas do post e da minha postura perante a vida!